sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Um pouco de xilogravura!

É.. estou há alguns dias rebelde, sem postar aqui no blog. Mas acreditem, foi por total falta de tempo! Apesar de estar de férias da faculdade ainda estou trabalhando, e, no final do ano, juntam festas, com coisas para resolver e providenciar. Mas estou numa ansiedade só para colocar alguma coisa aqui. Hoje, como último dia do ano vou postar um artista que gosto muito e que pesquisei um pouquinho a mais para contar pra vocês aqui.

Oswaldo Goeldi, é um grande xilogravador, escolhi ele para postar para vocês aqui porque quando fui na Bienal de Arte de Sampa este ano, pude conhecer alguns de seus trabalhos. 

Oswaldo Goeldi - xilogravura - 29ª Bienal de SP
Em 1895, Oswaldo Goeldi nasceu no Rio de Janeiro, porém logo depois foi viver em Belém do Pará com a família, onde permaneceu até os seis anos de idade. Essa vivência foi influência para sua atividade como ilustrador mais tarde. Após a estadia em pleno ambiente amazônico, mudou com a família para a Suíça onde concluiu o ensino básico e secundário. Começou a praticar desenho em sua adolescência, porém dedicou-se integralmente à arte só quando abandonou o curso de engenharia em Zurique, após a morte do pai. Estudou na Escola de Artes e Ofícios, em Genebra, porém decepcionou-se com a escola, dedicando, portanto, ao trabalho de ateliê com dois pintores, Serge Pahnke e Henri van Muyden, pouco tempo depois continuou seu trabalho artístico isoladamente.

Ilustração de Goeldi - Conto: Judas - Revista: Paratodos

Após a morte do pai, os recursos financeiros para se manter na Europa ficaram cada vez mais escassos. Trabalhou em um banco em Londres, iniciou um trabalho para a revista Paratodos, e também páginas dominicais para o A Manhã. Dedicou-se à ilustração de periódicos e livros para sua subsistência. Mas, em 1919, devido a escassez de recursos, Goeldi teve de voltar ao Brasil.

Em relação à crítica de arte, sua volta ao Brasil foi problemática. Seu trabalho estava com as raízes estéticas extremamente vinculadas ao expressionismo alemão, cujo qual teve contato e influenciou-se fortemente na Europa. Depois de sua primeira exposição no Brasil, no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, a crítica tratou seu trabalho com descaso, fato este que se deve às manifestações artísticas da época no Brasil, que eram predominantemente neoclássicas.

 Em 1924, por influência do amigo Ricardo Bampi, iniciou sua produção de xilogravura. Este amigo o introduziu no conhecimento das goivas, madeiras e processos de impressão da xilogravura. Paralelo ao início da produção de xilo, continuou seu trabalho como ilustrador, aproximando sua comunicação com o público através de suas imagens.

Fishmarket - 1924, xilogravura 15,5 x 16,5 cm
Goeldi, com sua contínua dificuldade de aceitação do seu trabalho no Brasil, enviou a Alfred Kubin, artista austríaco, um pedido de aprovação:Caro senhor Kubin, queira ter a bondade de olhar os meus desenhos. […] A forte influência que o senhor exerce sobre mim, sem dúvida, se nota logo. [...] Num momento crítico da minha vida foi o senhor que me deu forças.”*

O artista austríaco respondeu demonstrando total entusiasmo com a obra de Goeldi e qualificou seus trabalhos como magistrais. Neste momento, podemos observar a insegurança do artista com seu trabalho, devido apenas à uma falta de compreensão por parte dos brasileiros em relação a grandeza do crescimento e do amadurecimento de seu trabalho, apesar de já ter acontecido no Brasil a Semana de 22, Goeldi ainda teve dificuldades em apresentar seu trabalho. Como a criação do artista foi praticamente toda fora do país, suas influências estavam em um momento bem ousado da arte, experimentando novos espaços e formas. Acredito que a partir daí começa a grande importância de Goeldi como gravador no Brasil.


[Peixaria] - 1926, grafite 25,3 x 29,1 cm
Em 1928, algumas posturas em relação à arte começaram a ser modificadas devido a esclarecimentos de alguns intelectuais do cenário brasileiro como, por exemplo, Manuel Bandeira, que se refere aos salões da época como espaços que possuíam obras repletas de um "monótono realismo anedótico, sem emoção ou poesia"*. No mesmo ano, Goeldi é convidado para ilustrar a obra Canaã, considerada a primeira obra moderna da literatura brasileira, escrita por Graça Aranha.

Em 1929, começam a sair publicações positivas em relação ao seus trabalhos em São Paulo, sendo dois artigos: um de Mário de Andrade e outro de Geraldo Ferraz. Trabalhou durante um ano na impressão de um álbum chamado 10 xilogravuras em madeira, todo artesanal e conseguiu um bom dinheiro com a venda.

Meados de 1932, foi um momento de alta produtividade e experimentação de Goeldi – em sua gravura entitulada Baiana pode-se ver estes experimentalismos: imprime duas cores e utiliza depois uma pintura com tinta a base d´água.
Mulheres do Mangue - xilogravura - 1925

Produziu xilos para o álbum de Heckel Tavares, que compôs sua primeira música erudita, lançada com o libreto com as ilustrações de Goeldi. Ilustrou também a obra Cobra Norato, de Raul Bopp. Nessa época começa a sistematizar a utilização de cores nas gravuras. Em 1938, participou do II Salão de Maio, com obras surrealistas e abstratas, junto com outros artistas como Volpi, Di Cavalcanti, Guingnard, Cícero Dias, Flávio de Carvalho, Tarsila do Amaral e Victor Brecheret. Foi convidado para ilustrar três livros do Dostoievski por José Olympio, aumentam seus trabalhos como ilustrador nos trabalhos diários, dedicou-se a ilustrar uma série sobre guerra, no contexto da Segunda Guerra Mundial.

Seus trabalhos carregavam uma forte tendência e ligação com a temática dos pescadores e da natureza, contudo, a temática das guerras, da violência e da morte vinham acompanhando suas ilustrações, faziam parte da sua sensibilidade como artista também. Goeldi começou a ter reconhecimento, passou a enviar seus trabalhos para diversas galerias e salões, dentro e fora do país.

[Baiana] 1932, xilogravura a cores e nanquim 
a pincel - 16 x 15 cm
Com o passar dos anos, o artista aumentou as proporções de seu trabalho, encomendando madeiras tropicais resistentes e com bastante dureza. Dava preferência a este tipo de madeira por possuírem superfícies uniformes, podendo, portanto, alcançar um preto denso e aveludado, além de ter o controle dos contrastes através da manipulação do uso da colher de impressão. Suas gravuras se tornam cada vez mais expressivas e com uma qualidade técnica inquestionável.

O trabalho de Goeldi cresceu enormemente e fortificou-se não somente no campo da ilustração. Trouxe uma enorme influência em termos estéticos para o Brasil e aperfeiçoou o processo da gravura em madeira – novos tamanhos de xilogravura, aprimoramentos da impressão de mais de uma cor, experimentalismos com outros processos, um primor de qualidade, com uma estética interessante. Morreu em 1961, mas deixou um acervo de imagens imenso e rico para os artistas que se interessam pela gravura.

[Briga de Rua] - 1926 xilogravura - 17 x 21 cm
Álbum 10 gravuras em madeira de 
Oswaldo Goeldi - RJ, 1930 - 35 x 26cm
André de Leão e o Demônio de Cabelo 
Encarnado - xilo - 1935 18 x 14 cm

Abandono – xilogravura - 1937


E aí, gostaram?

Boas Impressões!!! (Melhores ainda em 2011!)


Referência:

Centro Virtual Goeldi. Disponível em: <http://www.centrovirtualgoeldi.com >. Acesso em: novembro de 2010.

* Trechos disponíveis na página: http://www.centrovirtualgoeldi.com

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