terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Canto dourado à cidade das maravilhas

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Amada cidade, dos morros de histórias e corações perdidos. Tuas casinhas de janelas e portas de brincar - de rosas, azuis, verdes, laranjas e amarelos. Tuas inúmeras torres, que salteiam nessa paisagem escadeada, mostram tua fé. Tento me convencer de que não há como amar-te mais, mas então, vejo-me perdida nos teus montes, nas tuas casinhas e igrejas, naquele sol dourado de inverninho bom e meu coração palpita.

Cabelos embaraçados por tanto vento junto com aqueles sorrisos ansiosos contam como o teu dia sempre brilha, contam como é fácil perder-se de paixão nas pedrinhas, em suas ladeiras infindas. Sempre foi tanta essa alegria que a gente até desembestava, ria como criança sem acreditar que podia ser tão bom.

Aconchego é esse de braços amigos e ensolarados, num cenário tão bem desejado, donde o entusiasmo é uma folha de ouro que acoberta nossas talhas barrocas do riso e também donde olhinhos brilham e rolam de cada causo bobo contado na função da felicidade: um lugar em que tudo quanto é detalhe é peça principal para o caminho de quem passa.

Teu esplendor inquieta meus olhos, que ficam em constante busca, na curiosidade eterna, por cada adorno que envolve tua aura. Tuas cores, teu artesanato participam do cenário, florido, colorido: dourados, azuis, vermelhos, verdes... Tua serra que aconchega: cada pedaço teu é meu, no limiar entre minha lógica e paixão.

Tuas suaves e tenras flores desbotam-se e envolutam, envolvendo em seu mundo encantado das artes da terra. Alumiam-nas pretas e brancas, minhas luzes dos dias da vida, vivendo mais um Ouro Preto amado.

Ah! Essa terra das maravilhas faz cintilar, palpitar, alumiar, acreditar... O amor está tão perto!

Tua imagem é refletida por onde meu pé caminha, levas sempre contigo meu olho. Em meio tanto do que é belo, me perco em deslumbres. É porque dentro de ti guardas um segredo ainda mais bonito, e passarei a vida inteira a tentar desvenda-lo se for preciso.

Ah! Ah! Pois és, és tão dourada, que já me confundo na cor de dentro e de fora. Tão leve e feita com tanto esmero, tens a sensibilidade da veia que corre em ti, das histórias que ficaram no passado, da dor, dos desejos, dos sonhos que começaram a se construir há pedras e luzes de distância... Guardas em teu baú do quinto cada almejo de quem te encontra.

Perco-me todos os minutos a fundir meu corpo no teu lugar. Camuflo-me, dourada e cor de antiga, e me sinto parte de ti. As coisas que existiram outrora, que me fazem perder no tempo e sonhar com memórias que aconchegam.

Debruço-me a tua janela, cantando o canto, bordando o ponto, a dar conta do encanto que tua forma colonial emoldura a mim. Já me encontro entre tanta textura, luz e nostalgia.

A todo instante umas dessas mil portas me convidam, como quem me diz “vem ficar”. Na simplicidade de tuas formas, tuas madeiras de séculos, tuas camadas sem fim de mãos de tinta, não sei escolher qual quero entrar, sei que quero: um muito tanto que me inquieta. Tantas únicas, tantas amadas, tantas maçanetas que contam mãos lindas de corações sonhadores que passaram por ali.

Rosada, floreada, perdida no meio da rua de amor. Na porta do quem sabe o que: e, afinal, qual destas há de nascer aquele alferes encantado em sua juventude, cheio de querer?

Não é preciso ir muito longe para encontrar o amor.

E no caminho, em meus tropeços, caio e descubro mais flores a sorrir para mim. E ó! O sol se indo, lindo, findo, dourado e eternizado. Seduzidos estamos e não queremos nunca mais desapaixonar.

Se abrir bem os olhos, o amor está mesmo em toda parte.

E pra sempre te desejo: quero andar no teu corpo feito passarinho, sorrateira e leve e cantar em tuas esquinas. Que este canto seja tão suave que o primeiro vento que passar me assopre e leve de volta para o ar, para te ver novamente por completo.

Bordo-me em ti, para teres a certeza de que minha passagem não será uma mera casualidade, fico em estampa para saberes que não saio em memória jamais.

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Fotos e texto: Anna Luiza Magalhães – Ouro Preto - MG. Setembro de 2012.