terça-feira, 27 de outubro de 2009

Filosofias Machadianas reinterpretadas na Moda

Através deste trabalho procurei fazer uma interpretação do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, redirecionando o olhar literário para o universo da moda, que se expande não somente de maneira comercial, através das massas, mas também de maneira singular e simbólica traduzindo a música, a literatura, a arte, a dança, dentre outras, para uma nova linguagem: a roupa.
Quincas Borba é um romance de Machado de Assis de 1891, seu protagonista é o Rubião, amigo de Quincas Borba, cujo qual criou a filosofia do Humanitismo. Rubião enriquece ao receber a herança deste seu amigo que falece depois de muito doente e já bem enlouquecido. Rubião herda também o cachorro, que carrega consigo o mesmo nome que o falecido dono: Quincas Borba.
Humanitismo - A vida é um campo de batalhas, onde só os mais fortes sobrevivem e os fracos, ingênuos por natureza, acabam por manipulados e aniquilados pelos seus superiores. O humanitismo é, por assim dizer, a ironia das relações humanas.
"Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas, mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição de sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum" (Quincas Borba)
"Ao vencido, ódio ou compaixão, ao vencedor, as batatas" (Quincas Borba)
A moda é um campo efêmero, fugaz e valorizado como algo fútil e, por sua essência, consumista. O humanitas é quase que, por excelência, a moda. Um universo competitivo não somente por haver espaços a serem preenchidos, mas também por haver idéias, criatividades, inovações a serem colocadas e, portanto, as informações são bem resguardadas a fim de impedir que o outro vença primeiro. No mundo real da moda, o humanitismo é quem manda.
Voyerismo - O exibicionismo e o voyerismo são fatores relacionados, os homens se excitam pelo estímulo visual e as mulheres têm prazer em se colocar como objetos de desejo. No romance, a personagem Sofia seduzia e encantava Rubião, enlouquecendo-o de paixão. Ao confessar seu amor por Sofia, esta se junta ao marido para sucumbir-lhe o dinheiro. Palha sente prazer em usar sua mulher como um símbolo encantador e, Sofia, apruma-se ao sentir que é objeto de desejo.
Exibir e demonstrar os feitos e as vestes, não é nada estranho a esse mundo modista, onde o importante é realçar o que você veste, o que você usa e não quem você é.
Reificação do homem - Palha utiliza Sofia para usurpar a fortuna de Rubião, enlouquecido de amor. A ruína econômica moral e física de Rubião prova a idéia de que ser fraco é ser culpado. Humanitas quer enriquecer: Rubião perde, Palha e Sofia ganham. (ao vencedor as batatas). A coisificação do homem se auto-justifica pelo ganho do dinheiro.
Transformar o homem em objeto do homem. Onde vemos isto? A coisificação do corpo como um objeto de consumo e de espelhamento tornou-se algo banal nas revistas, televisões, mídias no geral. A sustentação para uma glorificação da imagem perfeita, do excesso de modificações físicas e psíquicas para passar a ser uma criatura bela e admirada, está acima dos valores de vida das pessoas, fazer uma cirurgia e gastar dinheiro em lojas de marca está mais comum que ler um livro. (algo estranho?)
Loucura - Quincas Borba, no ínicio do romance, morre enlouquecido, acreditando ser Santo Agostinho. Antes de sua morte explica a Rubião o Humanitismo, mas este não se faz compreender. Ironicamente, Rubião ingênuo, por sua vez se deixa deslumbrar com os novos amigos e com sua paixão platônica, porém, mal poderia saber, que estes apenas queriam se afortunar à suas custas. Rubião foi vítima da filosofia do Humanitismo: Enlouqueceu aos poucos de amor e, abandonado por todos que dele se aproveitaram, retorna para Barbacena, com o cão Quincas Borba - tudo que lhe restou - louco, doente e pobre.
O consumismo se converte nisto: loucura, doença e pobreza.
A partir desta pequena análise e de mais algumas leituras desenvolvi alguns croquis, shapes, cartela de cores, e criei um destes looks, objetivando transpassar de alguma maneira esta imagem que em mim ficou da relação do mundo futilizado da moda com a filosofia impregnada em Quincas Borba. Estas imagens abaixo fazem parte de um editorial que criei com este look:

Ficha Técnica:
Modelo: Manuela Gastal
Criação: Anna Magalhães
Maquiagem, Cabelo e Produção: Anna Magalhães
Fotos: Anna Magalhães
Deixem suas impressões!

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