quinta-feira, 11 de março de 2010

Degas dança desenho

Falando de arte e falando de dança o assunto interessa. Para começar ilustrando, nada mais esperado que o grande Edgar Degas, pintor, escultor, desenhista, gravurista e tudo o mais. Seus desenhos de grande expressividade representavam a dança, os movimentos, registravam as aulas, exames - situações de um espaço preenchido pela arte da gestualidade.

Pensar nisto preso em um papel ou uma tela, ou até mesmo em uma pedra esculpida, parece vir contradizer toda a essência da dança, do movimento corpóreo e da suavidade de seus gestos, por um instante parece limitar o movimento e simplificá-lo, como se uma cena apenas traduzisse toda a dança.

Mas vejo de outra maneira, transformar a dança em uma arte plástica é eternizar um sentimento instantâneo, é possibilitar o olhar de capturar um movimento etéreo e fugaz. E é inspirador pensar que Degas capturava suas cenas através de uma observação meticulosa e repleta de sensibilidade. É preciso estar embebido e muito envolvido com a cena, participar das sensações e das entregas dos corpos e das almas para o movimento rítmico, capturar não só através do olhar, mas através da pele, da carne, tudo o que está relacionado com o ato e a paixão de dançar.

Abaixo alguns desenhos (pastel, grafite, etc) de Edgar Degas:

 



Um livro que andei lendo é o "Degas dança desenho", do Paul Valéry. O livro não é uma biografia e nem um estudo de obra, são alguns relatos sobre a convivência do autor com o artista Degas, onde faz suas próprias observações, reflexões particulares e conta "causos" a respeito do artista.

E algo que li pelo meio do livro diz o seguinte: "É verdade, todavia, que uma coisa é ainda mais instrutiva: a espantosa inexatidão provável da observação imediata, a falsificação que é a obra de nossos olhos. Observar é, em grande parte, imaginar o que esperamos ver." (VALERY, Paul. Degas dança desenho)

E pra mim ai se justifica o fato de ser necessário uma aproximação visceral com aquilo que um artista quer retratar, independente do que seja, a simples aproximação com o olhar não é suficiente, é muito mais verdadeiro e prazeroso quando o conhecimento daquilo se dá por completo, olhar, corpo, mente e alma. A imagem tem força, a imagem assim transporta vida.

Boas Impressões!

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