Virgínia é a estilista e idealizadora da marca. Busca, com seus produtos, trazer temas culturais, artísticos e históricos, trazendo exclusividade, conforto e beleza. A marca possui um apelo atemporal e sua produção não é baseada nos lançamentos das tendências das semanas de moda. A estilista está sempre em busca de novidades, atualizando seus conhecimentos, trazendo curiosidades das suas várias viagens pelo mundo e aperfeiçoando suas habilidades com inúmeros cursos por aí.
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Poesia de Manoel de Barros - inspiração para o Minas Trend Preview |
TI: Como você organiza o seu processo de criação?
Virgínia Barros: Eu gosto de fazer o mesmo processo que eu aplico em aula, eu penso em um tema, faço um brainstorm, como por exemplo a poesia do Manoel de Barros (que estou usando como
referência agora para o Minas Trend Preview) - queria algo ligado a pássaro – menino com olhar de pássaro. Comecei a esboçar todas as imagens que a poesia dele me trazia, todas as formas. Volto o tempo todo na poesia e sempre que uma imagem me vem a cabeça eu continuo desenhando. Vou montando a fôrma do sapato de acordo com estas ideias que eu fico na mão. Os detalhes, muitas vezes, são as primeiras coisas que crio e monto o sapato inteiro de acordo com este detalhe – não são apenas um enfeite, fazem parte de um todo. Agora estou desenvolvendo cerâmica, com passarinhos e motivos florais. Depois de desenvolvido o broche de cerâmica, construirei o sapato de acordo com o broche.
TI: Seus sapatos possuem muitas cores e estampas. Estas estampas são produzidas por você?
Virgínia Barros: Quase todas as estampas são produzidas por mim, mas, por exemplo, outro dia estava no centro e achei um loja de tecido de mesa, lindos, com motivos antigos, tipo frutas. Daí eu comprei o tecido, mandei dublar (dublar: processo mais direcionado a confecção de sapatos e bolsas, é uma máquina enorme que funciona em altíssima temperatura e sela uma entretela específica para tecidos de sapato – funciona para dar uma encorpada no tecido), portanto, utilizei uma estampa pronta para o meu sapato. Eu gosto de pegar tecidos que não tenham nada a ver com sapato e utilizar na produção. Mas muitas vezes eu produzo a estampa, apesar de trabalhoso, eu crio os desenhos e mando para a estamparia digital.
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Sapatos Virgínia Barros - entrada da loja do Anchieta |
TI: Como funciona o processo de produção dos sapatos?Virgínia Barros: Nós mesmos produzimos o sapato, não terceirizamos. Montamos e cortamos o sapato, só o pesponto que não funciona internamente. O sapato depois de cortado é levado para pespontar fora, mas é uma banca de pesponto só para minha marca, apesar de ser terceirizada, é exclusiva.
Em relação a modelagem, funciona assim: eu modelo o meu sapato na fôrma, crio as formas que eu desejo, mas quem finaliza a modelagem, tira o molde e planifica, é um ótimo modelista. Não dá para ser um modelista que não seja excelente, porque tem detalhes muito matemáticos para o bom encaixe e conforto.
A minha produção é bem artesanal, é um espaço pequeno onde fazemos o corte e a montagem, tem apenas um montador que monta todos os sapatos, é uma produção diária e contínua, mas nada em grande escala. Em relação ao tempo de produção, as rasteiras são bem rápidas para montar, já um sapato boneca ou um oxford o processo é bem mais demorado.
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Nova loja - achados de viagem | Anchieta |
TI: Como que surgiu a vontade de abrir uma nova loja no Anchieta? Qual é a novidade da nova loja?
Virgínia Barros: Esta nova loja é uma ideia que eu tive porque estava viajando muito e vendo coisas super legais e baratas. Então é uma loja de “achados de viagem”. Mas o motivo que alavancou a abertura da loja foi devido ao preço de custo dos meus sapatos que estavam ficando muito caros e eu não tinha a intenção de aumentar muito no preço de venda para não elitizar muito a minha marca e, portanto, poucos terem acesso para comprar.
Precisaria economizar no material, não podia forrar com o couro e isto tudo faria com que caísse a qualidade – e eu não queria de forma alguma que isto acontecesse. Então a loja foi uma boa solução para entrar um dinheiro bom sem eu ter de aumentar o preço dos sapatos e nem economizar com bons materiais. Faço questão de um sapato confortável, com ótimas matérias-primas, de caprichar nos detalhes, de revestir com couro por dentro e por fora do sapato, de utilizar tecidos antitranspirantes, de acabamentos para o conforto, dentre outras coisas mais.
A loja no Anchieta abriu no dia 25 de agosto e deu um resultado super legal, e agora, dia 15 de outubro, abri uma loja com o mesmo objetivo na Savassi, na mesma galeria onde fica a minha primeira loja de sapatos.
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Algumas das peças da loja achados de viagem - isto e muito mais! |
TI: O estilo da loja “achados de viagem” atrai um público grande? Maior ou menor que os consumidores de sapatos?
Virgínia Barros: É interessante, porque realmente o meu público é incrível, não tem idade, são pessoas interessadas em um produto diferente, que vão até a minha loja para ver o que eu tenho de novidade para mostrar - não vão até lá atrás de um sapato específico ou aquele da revista.
Agora, o público que está comprando na nova loja, abrange não somente os que já compram meus sapatos (que normalmente são pessoas ligadas mais à cultura e à área de criação), como também um público que esta mais ligado à tendência de moda, que são alvos de revistas e etc. Neste caso, a pessoa leva uma saia estampada, ou um vestido e combina com um outro tipo de sapato, permanecendo no seu universo de compras e mantendo seu estilo.
Os produtos da minha marca são sapatos que as pessoas se identificam com a estética e não vão achar em nenhum outro lugar, que é a vantagem de ser autoral, não tem concorrência, mas também não agrada todo mundo.
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Chapeleiro que acompanha o visual da nova loja |
TI: Você já pensou em criar uma linha infantil?
Virgínia Barros: Tenho interesse sim, inclusive já fiz quatro sapatos de bebê – com os temas: pré-história, medieval, índios americanos e século XVIII. Fizemos estes sapatos de bebê por encomenda e não produzimos muitos mais porque não foi um sapato que saiu muito barato para produzir, logo, dificulta muito na venda. Já tinha o jogo de fôrmas de bebê (que vai do número 16 ao 21 – depois desta numeração começa o infantil). Tenho muita vontade de fazer o infantil, mas não tive como dedicar para isto ainda. Me perguntam muito em relação aos sapatos masculinos também, que também já fiz alguns e venderam todos, mas é outro sapato com o custo altíssimo pela quantidade de couro e que é super difícil de achar um preço de venda legal, tive de parar de produzi-los, mas penso em quem sabe um dia retomar.
[Confiram os modelos infantis criados pela Virgínia neste link do blog da marca: aqui (lindos)]
Adoramos o bate-papo com a Virgínia, super receptiva, simpática e cheia de boas idéias e informações para nos passar. Sempre que possível a estilista passa o tempo na loja e é super acessível para trocar conversas com os clientes, uma ótima oportunidade de conhecer uma grande referência de sapatos e de moda mineira.