Realmente os dias andam corridos por aqui e os meus posts ficaram de lado por um tempo, espero conseguir dedicar mais tempo para escrever, porque já vi muita coisa bonita por esses lados de cá do oceano e sei que ainda vou ver muito mais.
Passeante pelo mundo, descobri nos detalhes o espelho do povo, da alegria e da cultura dos espaços em que estive. No cuidado da comida, na energia transportada entre as pessoas, nas construções, igrejas… há, no ar que se respira, partículas de luz que invadem nossos olhos e, assim, nosso pensamento, contagiando-o com a experiência estética que nos permitimos sentir.
Estar em um novo lugar é mais do que entender conceitualmente as características daquele estilo arquitetônico, ou perceber dentro da história porque existiu qualquer coisa ou, apenas, visitar museus e lugares turísticos com o objetivo de devastar tudo o que a cidade te possibilita fisicamente. Me permito perceber pormenores, observar a rua, o movimento, o ar, sentir de corpo inteiro, com todos os sentidos que meu corpo possa receber a energia do lugar. Meu olho, nariz, boca, são tão importantes como a mão, pé, barriga, joelho, nessa função da receptividade. Cada dia que se passa e que conheço mais lugares e pessoas de outros países que não o meu, percebo que é necessário me permitir a isso: me entregar ao povo, ao abraço cultural e ver a amplitude sensorial que podemos alcançar com essa mistura.
Barcelona foi a minha primeira experiência no velho continente e, agora, passados sete meses da minha vida por aqui, percebo que ali começou uma nova fase da minha perceptividade cultural, a começar pela língua, pela preocupação com os choques comportamentais e pela admiração com um espaço diferente do qual estava acostumada. Meu Brasil, minha terra, nunca me deixou não notar sua beleza, seus cheiros, seus espaços, mas ali eu me encontrava facilmente, seja nas ladeiras douradas de Ouro Preto, seja na beira mar de Alagoas, com a água bem azul-esverdeada trazendo conchas pra mim. A Europa, eu já sabia, seriam novos aprendizados.
Em uma conversa bem boa uma vez com um professor meu bem querido, ele me disse o seguinte: que não gosta de viajar correndo, que gosta de ficar vários dias em um mesmo lugar, mesmo que conheça menos cidades do que gostaria. O corpo dele pede uma informação do lugar a mais, acredita que conhecemos mesmo uma cidade quando temos tempo para vê-la: aquele momento em que você anda na rua e cruza com um rosto familiar ou consegue perceber a rotina cansativa do mercador que acorda cedo para abrir sua quitanda. Eu percebi o que ele disse, e isso nunca mais saiu de dentro de mim.
Assim tenho me encantado com o mundo e todo dia me vejo mais esfomeada por isso: por preencher a caixinha de conhecimento, de informações novas, de cores, pessoas, formas, sons, cheiros, luz. E, que assim seja!
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Barcelona, terra das cores, sabores, organicidades e luz. Eu logo logo me encantei, sem dali esperar qualquer coisa que não fosse felicidade, e pronto, encontrei-a. Alegria por atravessar a avenida diagonal e ver texturas de todos os tipos, ruídos de carros que se misturavam com o balanço das árvores em tantas praças no meio das ruas, e pensei: mas como pode haver tanta preocupação com o espaço social? Encontrei-me no paraíso: onde as pessoas saem de casa pra jogar ping-pong na pracinha, ou sentam no banco para tomar sorvete. (Ah, sim! Isto é o verão, porque um pouco depois descobri que o inverno por aqui muda muito a rotina dos europeus).
Ao dizer isso parece que no Brasil não tem dessas coisas, claro que tem! Mas o que eu achei diferente é que é muito (muito!) preenchido desses espaços, tem muitas praças, rotundas, aconchegos pela cidade. Não é uma “cidade metrópole” com cara de virtual, andei e me perdi apaixonada pelas ruas cheias de cantinhos para admirar e relaxar. Andei bem.
No Brasil, nas grandes cidades, o povo trabalha demais, descansa de menos, e mal tem uma praça (ou tempo) para se parar no intervalo do almoço pra ler um livro. (Até porque no intervalo do almoço o brasileiro vai ao banco pagar conta, ao supermercado comprar algo que tá faltando em casa, resolver qualquer pendência do dia-a-dia). É claro que isso não é geral, mas no nosso país não sabemos trabalhar e relaxar ao mesmo tempo, ou um, ou outro.
Agora sim, eu vou carregar essa filosofia para minha vida: relaxar é viver.
Das cores e sabores, a bela paella conquistou-me. Me puseram diante de todo o encantar da Sagrada Família e, como se alguém susurrasse ao pé do meu ouvido, disseram-me em meu imaginário: degusta do amor, do prazer de sentir dentro e fora esse novo lugar. Para complementar: azulejos, ou pedaços dele, ornamentaram meu momento, não podia e nem tinha precisão de melhorar. Tudo bem feito pra mim. E descendo forte, escorregando em pedaços por mim, aquela cor amarela, em um contraste de refrescância e calor do álcool, um belo chupito espanhol, que alumiou o paladar e fechou na sua completude esse instante.
Foto: Paella e chupito em frente à Sagrada Família. Barcelona – setembro de 2011.
Digo que fui feliz porque não havia mais como não provar cousas, cada impressão doce, salgada, amarga, azeda, qualquer uma, participava de mim como em uma leitura de um quadro. A experiência transportou-se do olhar, de fato, e percorreu todo meu ser. Como em sonho lembro os dias que o pan catalan aqueceram meu desamparo, uma saudade que eu já sentia e que me fez lembrar um dia bom, subindo e descendo as ladeiras e escadas do Parc Montjuic.
[estou aqui em um lugar desconhecido pela solidão…foram tardes de liberdade, de amar, de alegrias, de puro prazer e gozo… só conheci aqui assim, contigo amor meu. e agora estou aqui a escutar a sua linda voz cantando ao meu coração, ao pé do meu ouvido, mas sem ali te ver, estou aqui, a trocar lágrimas pelo teu som… escuto minha música feita por ti com teu amor, teu carinho, que me mata ainda mais de saudade. cada soprar, cada respirar na flauta, atravessa e ampara-me, acolhe e me enlouquece de pensamentos lindos e ternos. Perco minha razão diante do teu som ouvido em uma tarde diferente de liberdade, tarde tão livre que queria que fosse menos, queria estar eu presa em teus braços, quentes, acalentadores de minha alma e beijar-te loucamente de tanto sentimento que agora explode em mim. ahh, como te quero, hoje, amanhã, sempre!] [barcelona, 15 de setembro de 2011. parc montjuic]
Estive em dias de muito verão por Barcelona, um calor que derrete, amolece, amolece tanto que parece que até é possível amar mais… tão quente que quando via água ela reluzia como um tesouro que tava escondido quando é encontrado.
Confesso que deliciei-me ao encontrar as Fontes Mágicas de Montjuic em um dia a noite: som, luz e a água dançando pra mim, tipo um oasis no deserto da refrescância. E a água tava tão pulante, que havia momentos que ela vinha abraçar quem a assistia.
Neste momento do dia o que a gente queria era apenas sentar e admirar: a água vem como um presente. É tão encantadora com sua cor e luz, cheia de energia vinda da fonte, que refresca, ilumina e contamina de boas vibrações, quase que reestabelecendo o corpo novamente para uma nova jornada, depois de um dia caminhante e cansativo.
Foto: Fontes Mágicas de Montjuic. Parc Montjuic. Barcelona – setembro de 2011.
Me embalei na emoção, não tinha me posto cem por cento à prova ainda, agora precisava de vento, de ver, de voar. Lá no alto meu olho batia curioso, sua organicidade e imposição me assustavam e seduziam. Eis que fui, num teleférico em fio, pus meus medos a meu favor: meu coração batia e um frio percorria minha barriga, pensei que flutuava… era como estar em um balão.
Cada passadinha perto da rocha eu encolhia e abaixava como se fosse bater, mas só o que batia mesmo era aquele medo/vontade de chegar lá. Mont Serrat, que muito lindo! A natureza e a fé numa mesma instância, ali, num alcance inalcançável, precisei voar pra chegar lá. O olho brilhou, encantou, nas ruínas montanhosas, nas construções, na igreja, na luz que atravessa as cores de seu vitral, no Deus transformado em cor pela união da arte e do sol.
E, assim, a minha janela da alma iniciou sua nova empreitada: a de preencher sua palheta com ainda mais pigmentos e de, aos poucos, ir retirando a cortina que estava cerrando a minha mente, alimentando a minha fome do mundo, de gente, de saber. Agora não para mais, é um caminho sem volta, é um amor que não acaba, um infinito de qualquer coisa que eu queira criar, ver, conhecer.